terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A escrita de Maria Lígia Madureira Pina

Imagem postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente artigo. 
Foto reproduzida do blog: academialiterariadevida.blogspot.com.br

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 18/08/2014.

A escrita de Maria Lígia Madureira Pina
Por: José Anderson Nascimento

A escritora, poeta, professora e acadêmica Maria Ligia Madureira Pina, falecida em 14 de agosto de 2014, era uma ilustre sergipana que se dedicou ao ensino e às letras, tanto na composição de belíssimos poemas, como na escrita de ensaios historiográficos e de crônicas. Filha de Affonso Pinna e de D. Alexandrina Madureira Pina, Lígia Pina, como era mais conhecida no meio acadêmico, nasceu em Aracaju, Sergipe, a 30 de setembro de 1925. Fez as primeiras letras com a Professora Carlota Sales de Campos, no Colégio Frei Santa Cecília, em Aracaju, transferindo-se depois, para o Grupo Escolar Manuel Luiz e, em seguida, para o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde concluiu o curso primário. Cursou o secundário no Instituto de Educação Rui Barbosa, quando iniciou com as suas atividades literárias, muito incentivada pelas professoras Maria Conceição Melo Costa, Julia Teles e Dalva Costa.

Já professora, graduada pela Escola Normal, tentou fugir do magistério, para atuar como comerciária, na firma Cabral Machado & Cia., tentativa esta frustrada diante da sua vocação pelo magistério, principalmente porque havia conquistado no curso do Instituto de Educação Rui Barbosa, um amadurecimento social e cultural, capaz de transmitir aos adolescentes aracajuanos, os conhecimentos obtidos naquela modelar instituição de ensino público, formadora de uma plêiade de profissionais do ensino, que se destacaram no cenário educacional do Brasil.

No curso superior, muito incentivada pelos professores José Silvério Leite Fontes, Maria Thetis Nunes, Josefina Leite, Lucilo Costa Pinto, Felte Bezerra, Gonçalo Rollemberg Leite e D. Luciano Cabral Duarte, Lígia Pina dedicou-se ao estudo da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia, da Geografia, da Literatura e, principalmente da História, dando início, assim, aos ensaios publicados nesse campo, além de outras pesquisas com o foco na Pedagogia.

Graduada em História e Geografia, na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, firmou-se no magistério, por mais de três décadas, lecionando aulas de História, Geografia e Sociologia, com atuação, desde 1959, em colégios da capital sergipana, entre eles o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, o Instituto de Educação Rui Barbosa, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe; e, também, no Colégio Estadual de Sergipe e no Colégio Tobias Barreto.

No decorrer da sua carreira no magistério estadual, a intelectual que subitamente nos deixou, transferindo-se deste Oriente para o Oriente Eterno, participou de vários eventos educacionais, tanto no Brasil, como no exterior, valendo destacar as suas experiências internacionais no Curso de Sistemas Educacionais a que frequentou em Israel, no ano de 1989.

Paralelamente à sua atividade no magistério, Lígia Pina, muito produziu textos literários e trabalhos didáticos para a orientação de adolescentes, como: As Riquezas do Brasil, em 1969; O Poema Histórico da Ordem Sacramentina, em 1970; O Viajante do Tempo, em 1977; o Ponto Ômega, 1979; Patrícios e Plebeus, entre outros, que tiveram grande repercussão nos meios educacionais do Estado de Sergipe.

Ao lado de tudo isso, a intelectual aqui referenciada, no seu livro de poemas Flagrando Vida, publicado pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, em 1983, demonstrou os seus pendores literários, despertando o sentimento do belo. De igual forma, no seu livro Satélite Espião, produziu poemas com extrema qualidade lírica.

Mas, foi na prosa, especialmente no livro A Mulher na História, que a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina veio a se notabilizar, no cenário intelectual de Sergipe.

A Mulher na História é um repositório de preciosas e importantes informações, pois adotando o método de pesquisa bibliográfico, com algumas incursões no método empírico, ela narra toda a trajetória da mulher, desde a mais longínqua Antiguidade até aos dias atuais.

Nesse livro, começa por analisar as origens da discriminação da mulher, a partir da função biológica, própria do sexo feminino; dos tabus que passaram de geração a geração e a sua segregação bíblica. Mostra, ainda, a submissão da mulher na Antiguidade Clássica, sob o regime do patriarcado, quando era submetida a uma capitis iminutio perpétua: o marido podia repudiar a mulher; era legal a subordinação total da mulher à autoridade marital.

Ao recebê-la na Academia Sergipana de Letras, quando tomou posse na Cadeira número 27, numa memorável sessão acontecida em 13 de maio de 1998, concentramo-nos na análise do seu livro, A Mulher na História, que apresenta um elenco importantíssimo das representantes do sexo feminino, em todas as áreas do conhecimento humano, valendo destacar Rosa de Luxemburgo, líder socialista e uma das grandes expressões da Economia Política; Simone de Beauvoir, romancista e feminista, autora do livro O Segundo Sexo, que trata da emancipação feminina; Coco Chanel, que revolucionou o mundo da moda; Agatha Christie, romancista mundialmente conhecida; Virgínia Wolf, escritora que introduziu o romance psicológico e lutou contra os padrões literários da Era Vitoriana; Dolores Ibárruri (La Passionara), líder operária espanhola, que lutou contra a opressão do Generalíssimo Francisco Franco; Golda Meir, fundadora do Estado de Israel e Madre Tereza de Calcutá, que dispensa comentários, diante da sua trajetória em benefício dos menos afortunados.

A Lígia Pina, na sua obra literária, exibe-nos um formidável painel das mulheres que se projetaram no balé, no teatro, no cinema, nas artes, e focaliza as mulheres brasileiras que tiveram uma maior participação na política, na literatura, na música, nas artes plásticas, na aviação, na filantropia e beneficência, exemplo de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, Joana Angélica de Jesus, Ana Néri, Anita Garibaldi, Princesa Isabel, Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Dinah Silveira de Oueiroz, Cora Coralina, Madalena Tagliaferro, Bidu Sayão, Chiquinha Gonzaga, Alice Tibiriçá, Tarcila do Amaral, Carmem Miranda, Anésia Pinheiro Machado, Irmã Dulce.

Na sua escorreita escrita, a professora Lígia Pina dedicou um especial capítulo à mulher sergipana, dando ênfase especial às educadoras laranjeirenses Possidônia Bragança e Zizinha Guimarães. Ressalta a atuação das intelectuais Etelvina Amália de Siqueira, Leonor Teles de Menezes e Cezartina Régis, ex-alunas da Escola Normal e pioneiras do Movimento Cultural Feminino, em Sergipe.

Nesse mesmo sentido, a acadêmica Maria Lígia Madureira Pina, abriu páginas indeléveis fincando a participação de Quintina Diniz de Oliveira Ribeiro, professora e política; da jurista Maria Rita Soares de Andrade e da poetisa Carlota Sales de Campos.
Genésia Fontes (D. Bebé), na filantropia; Flora do Prado Maia, no romance; Leyda Regis, na contabilidade, Rosa Faria nas artes plásticas e Yvone Mendonça e Celina de Oliveira Lima, no magistério, receberam especial registro no livro A Mulher na História.

No destaque final da sua obra, Lígia Pina dedicou-se ao estudo da vida e da obra das acadêmicas Ofenísia Freire, Maria Thetis Nunes, Núbia Marques, Carmelita Pinto Fontes e Gizelda Morais, escritoras, cientistas sociais, poetisas e romancistas, todas elas dedicadas, também, ao magistério e responsáveis pelo desenvolvimento moral e cultural do homem sergipano.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net/artigos-leitura

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