quarta-feira, 22 de março de 2017

Tertuliano Azevedo - "Vida, Sonhos e Lutas"

Foto reproduzida do site: imprensa1.com
Postada por MTéSERGIPE, para ilustração da resenha.

Publicado originalmente no blog José Anderson Academia de Letras, em 26 de dezembro de 2014.

Vida, Sonhos e Lutas.

Por José Anderson Nascimento.

Vida, sonhos e lutas é um ensaio de história política de Sergipe, de autoria do escritor Tertuliano Azevedo, com 151 páginas e sob os selos da Editora J. Andrade e do Instituto Banese.

Tertuliano, advogado, político e conselheiro da Corte de Contas do Estado, marcou, com letras lapidares, a sua trajetória de vida na advocacia, na política e nos seus magistrais votos pronunciados no colegiado responsável pelo controle da Administração Pública, sempre combatendo a corrupção e os desmandos dos gestores públicos.

Na abertura do seu livro, o autor reúne uma variedade de depoimentos colhidos de colegas e de personalidades da vida política sergipana de todos os matizes partidários, com quem ele partilhou o seu trabalho e as suas experiências profissionais, na incessante busca do bem estar social, valendo destacar os pronunciamentos de Carlos Pina de Assis, Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe; de Benedito Figueiredo, Secretário da Justiça e da Cidadania; de Antonio Carlos Valadares, Senador; de Reinaldo Moura, Conselheiro; de João Augusto Gama da Silva, Secretário de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão; de Manoel Pacheco, economista e professor da Universidade Federal de Sergipe; do saudoso governador Marcelo Deda; de Eduardo Amorim, Senador; de João Alves Filho, Prefeito de Aracaju; de Albano Franco, líder político e agente cultural e de José Carlos Machado, Vice-prefeito de Aracaju. Todos, à unanimidade, ressaltaram os valores de Tertuliano Azevedo, desde a sua militância na política estudantil até a sua postura de magistrado.

No prefácio do livro Tertuliano: vida, sonhos e lutas, a sua filha Sônia Maria Azevedo Prudente destaca a obra literária e o seu autor, principalmente. Nas suas apreciações, ela mostra um Tertuliano ativo e participante dos principais episódios da vida política brasileira e os seus reflexos em Sergipe. Além disso, destaca a sua sensibilidade às causas das desigualdades sociais, fazendo-o um defensor de “uma sociedade mais justa e digna de se viver”. Narra, ainda, os seus valores como líder estudantil, sempre na defesa dos princípios éticos, centrados na defesa dos interesses nacionais, levando a sua voz tanto em comícios relâmpagos, ainda na adolescência e na juventude, assim como nos seminários políticos e na Câmara dos Deputados, representando o povo sergipano, naquela casa congressual. Refere-se, também, à postura do Tertuliano como um pai de família afável, polido e amante da sua prole, cujo caráter serve de exemplo para os seus entes queridos e para a sociedade.

O autor introduz o leitor descrevendo as suas vivencias desde Neopolis, o seu torrão natal, com incursões nas prosperas cidades de Penedo, em Alagoas, e Propriá, pelo lado sergipano, ambas banhadas e acalentadas pelas águas do Rio São Francisco. Para ele, a cidade de Propriá apresentava uma maior concentração de recursos econômicos devido à industria têxtil e ao comercio, que atendia aos ribeirinhos, tanto os do lado sergipano, como os do lado alagoano, inclusive de Penedo, cuja população acorria à feira de Propriá, que se realizava nas sextas-feiras e no sábado. Além de Penedo e Propriá, que despontavam como pólos econômicos, Tertuliano conta no seu livro de memórias que em Neopólis havia também, um pequeno parque industrial têxtil, representado pela Fábrica de Tecidos Peixoto Gonçalves e Cia, localizada na Passagem, pertencente ao empresário português Manoel Gonçalves e sucedido por José da Silva Peixoto e a Fábrica de Tecidos Têxtil, um consorcio de empresários alagoanos e paulistas, que cerrou as suas portas devido a divergências entre os seus sócios. Nota-se, ainda, uma concentração de renda representada pela industrialização e beneficiamento do algodão e do arroz, culturas que dominavam o Baixo São Francisco.

Nas páginas do seu ensaio memorialista e autobiográfico, Tertuliano Azevedo traz a lume a árvore genealógica da sua família e os seus laços de parentesco com o professor estanciano Bricio Maurício de Azevedo Cardoso (1844-1924), patrono da Cadeira nº 36, da Academia Sergipana de Letras e pai de Maurício Graccho Cardoso, deputado, senador e governador de Sergipe e do também, acadêmico e jurista Hunald Santaflor Cardoso, fundador da referida cadeira, no Sodalício sergipano.

O ensaio Tertuliano: vida, sonhos e lutas reflete representações de antropologia cultural, com o inter-relacionamento humano entre o passado e o presente. Nele, autor focaliza a sua formação educacional em Aracaju, no Colégio Tobias Barreto, no tempo do Professor José de Alencar Cardoso, mais conhecido como professor Zezinho Cardoso, um dos ícones da educação em Sergipe. Na linha do seu pensamento, Tertuliano faz abordagens ao seu engajamento nas instituições políticas estudantis do Colégio Atheneu Sergipense, concentrando-se na defesa das instituições nacionais e abraçando a “Campanha o Petróleo é Nosso”, que resultou vitoriosa, com a criação da Petrobras. Ainda como estudante, fundou a Ala Estudantil da Esquerda Democrática, que se transformou depois no Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado em Sergipe pelo jornalista Orlando Dantas. Além dessa página, Tertuliano volta o seu olhar para a cidade de Aracaju, destacando a sua população, inclusive todos os excluídos da sociedade. Mostra a sociabilidade das ruas aracajuanas, o seu casario, os bairros e até, um relato sobre a Feirinha de Natal, no Parque Teófilo Dantas, com o romantismo dos anos de 1950.

Na advocacia, Tertuliano Azevedo, abraçou o segmento do Direito Trabalhista, sempre defendendo os empregados e os sindicatos de trabalhadores, o que lhe conferiu uma liderança nesse segmento social. Nas referencias a sua militância política na esquerda, o autor do ensaio, Tertuliano: vida, sonhos e lutas, enfatiza os movimentos para construção da candidatura de João de Seixas Dória ao cargo de governador de Sergipe, em 1962, até à sua deposição, em 1º de abril de 1964, por representantes do Movimento Militar, em Sergipe. Ele relata, com minudencias, a sua prisão de natureza política, no início do mês de abril daquele ano, como, também, outras prisões de militantes da esquerda em Sergipe, a exemplo da que sofreu ilegalmente, o professor Ariosvaldo Figueiredo, o advogado José Rosa de Oliveira Neto, o prefeito de Propriá Geraldo Maia e o seu irmão, o deputado Cleto Maia; foram presos, também, os deputados Viana de Assis e Nivaldo Santos, estudantes, professores, lideres trabalhistas, magistrados e servidores públicos, todos acusados de subversão à ordem pública, que só foram libertados por força de habeas corpus e de outras medidas judiciais.

Na sua narrativa memorialista, Tertuliano, relata a sua filiação ao Movimento Democrático Brasileiro em Sergipe, aliando-se ao grupo dos autênticos no enfrentamento às repressões da Ditadura Militar de 1964. Ideologicamente centrado nas causas populares, elege-se deputado federal em 1978, com 16.772 votos, formando com Jackson Barreto de Lima, atual governador de Sergipe, a representação do MDB, na Câmara dos Deputados. Tentou fundar o Partido Progressista em Sergipe, sob a orientação de Tancredo Neves. O PP não vingou e Tertuliano aliou-se a João Alves Filho na sua trajetória ao governo de Sergipe, em 1982. Foi Secretário da Justiça e, nessa condição, criou o Departamento de Assistência Judiciária, órgão precursor da Defensoria Pública. Com a sua nomeação para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe Tertuliano Azevedo, encerra a sua trajetória política partidária, passando a dedicar-se à leitura e à escrita de ensaios jurídicos, históricos e memorialistas.

O livro está ilustrado com fotografias representativas de todos os episódios referenciados. Nessa parte iconográfica, destacamos a primeira vinheta com fotos da família, seguida de uma foto no Cacique Chá, onde estão Ariosvaldo Figueiredo, ao tempo Superintendente de Reforma Agrária, em Sergipe; o autor, Tertuliano Azevedo, então Delegado Regional do Trabalho e este escriba, à época jornalista da Gazeta de Sergipe e Secretário de Gabinete do Prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz Gonçalves. Outras fotos documentam o ensaio, marcando a trajetória de vida de Tertuliano Azevedo em diversos momentos da sua vida pública.

A escrita memorialista é o presentificar do passado e, nisso, Tertuliano Azevedo, no seu livro, Tertuliano: vida, sonhos e lutas, soube avaliar. A relevância da produção de um ensaio dessa estirpe para a história regional, sobretudo, para a historiografia Sergipe, apresentando um vasto manancial de fontes que, com metodologia apropriada, pode ser convertida em riquíssima pesquisa sobre a memória política do nosso estado.

Texto reproduzido do blog:
joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br

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