sábado, 8 de abril de 2017

Entrevista com o escritor Vladimir Souza Carvalho


Vladimir Souza Carvalho.

No ranking dos melhores do país.

"Escrevo pela necessidade de colocar para fora algo que está dentro de mim".

Diante de tantas notícias ruins nos cercando neste país, que se não bastasse nos tirar o sono, a paz, a esperança e o sossego, também nos rouba a qualidade de vida e o direito de viver com dignidade e boas expectativas, ainda temos que suportar a onda de fatos e irregularidades que pipocam neste nosso Estado, o menor da federação. Mas, como nem tudo está perdido para que ainda a gente possa ao menos enxergar aquele pontinho de luz no fundo do poço, eis que a mídia nacional divulgou um guia com os 26 escritores mais importantes do país - Estado a Estado, que para a nossa surpresa e orgulho, consta o nome do sergipano Vladimir Souza Carvalho, através de um dos livros da extensa lista de obras publicadas por ele, "Feijão de Cego", lançado no ano de 2009.

Itabaianense, nascido no dia 6 de abril de 1950, Vladimir formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe - UFS -, no ano de 1973,  e ao longo da trajetória profissional foi desde datilógrafo do extinto INPS até passar pela Justiça Federal de Sergipe, tendo sido juiz de direito das comarcas de Nossa Senhora da Glória e Campo do Brito, respectivamente, e depois, juiz federal da 2ª Vara das Seções Judiciárias do Piauí, Alagoas e Sergipe, e depois promovido, por antiguidade, para o Tribunal Regional Federal da 5a. Região, cargo que ocupa desde fevereiro de 2008.

Paralelamente com a carreira jurídica, Vladimir produziu vários livros de contos, poesias, história municipal da sua cidade natal (Itabaiana), folclore e Direito. Começando pelos livros de contos, produziu: "Quando as cabras dão leite" (1971), "Mulungu Desfolhado (1994), "Água de Cabaça" (2003) e "Feijão de Cego", publicação que lhe garantiu reconhecimento nacional, além de "Fogo de Monturo e outras fumaças", que já está prontinho só esperando o momento certo para ser lançado.
Na poesia podemos citar: "Sinal Verde, trânsito vermelho" (1972), "Dois Instantes e uma saudade" (ainda no prelo).
Na história municipal: "Santas Almas de Itabaiana Grande" (1973), "A República Velha em Itabaiana" (2000) e "Vila de Santo Antonio de Itabaiana".
No folclore: "O Caxangá na História de Itabaiana" (1976), "Apelidos em Itabaiana", "Adivinhas Sergipanas" (1999).
No Direito: "Da Justiça Federal e sua Competência" (1980), "Manual de Judicatura Aplicada", "Inconstitucionalidade e ilegalidade do Exame da OAB", que particularmente rendeu bastante polêmica, e "Competência da Justiça Federal" (sete edições publicadas). E em preparo, "Manual de Competência da Justiça Federal". Na fotografia, ele lançou ao lado de Robério Barreto Santos, "Álbum de Itabaiana". Outro livro que também não podemos deixar de citar é "Dom Casmurro: a história que Machado de Assis escondeu", no qual mostra toda a verdade do imortal romance de Machado de Assis.

Fora as obras, Vladimir de Souza colabora semanalmente com a publicação de artigos no jornal Correio de Sergipe, assim como também colaborou por seis anos no Diário de Pernambuco e na Folha de Pernambuco.

Em março de 2009, foi escolhido para dar nome ao Fórum da Justiça Federal de Itabaiana e atualmente exerce a sua função no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, na cidade do Recife.

O BACANUDO.COM bateu um papo com escritor e pinçou não só um pouco da sua trajetória no mundo literário, assim como o dom da escrita entrou e vem influenciando na sua vida. Deguste!

BACANUDO - Como recebeu a notícia que o nome do Sr. estava incluso na lista dos 26 escritores mais importantes do Brasil?
VLADIMIR SOUZA CARVALHO - Calado, vibrando internamente, mas calado, sem pular para vibrar com o gol.

BACANUDO - Qual a sensação de estar entre grandes nomes como Ariano Suassuna, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Aluísio Azevedo, entre outros ícones da nossa literatura?
VSC - Não dá para descrever. É como se estivesse incluído na seleção brasileira de todos os tempos, ao lado de Garrincha, Pelé, Didi, Leônidas da Silva, Zizinho, etc. e etc.

BACANUDO - Quando descobriu o talento para a escrita?
VSC - Desde os seis anos que escrevo. Ou seja, há justamente 61 anos. Inicialmente, histórias com os gatos lá de casa, em Itabaiana, depois acrósticos com as musas que me encantaram, em seguida, poesias com elas. Depois, veio a crônica e os contos. Até que resolvi reunir em livros os contos divulgados no jornal 'O Serrano', de Itabaiana. Título do livro: 'Quando as cabras dão leite', do ano de 1971. Sem querer, fui o primeiro sergipano a publicar, em Sergipe, um livro de contos. Após, mergulhei na história de Itabaiana, e, por força da condição de magistrado, penetrei também na seara jurídica.

BACANUDO - Como surgem as ideias para escrever um livro?
VSC - Sempre digo que é o bom anjo, que me acompanha, que me passa as ideias. De repente, no banho, na cama, na mesa, na viagem, caminhando, a ideia desponta. E aí a gente passa mentalmente a arquitetar os alicerces.

BACANUDO - De onde surgem os personagens? De alguma forma se relacionam com alguém que conhece?
VSC - Os personagens, em parte, são pincelados da vida real; em outra parte, nascem junto com a ideia. Interessante é que há contos em que o personagem reclama nome. Em outros, não.

BACANUDO - Qual o seu livro e autor favorito?
VSC - Gosto de todos os meus livros, mas me encanto mais, até agora, nos livros de contos. Não tenho autor preferido, me deliciando com aquele que, na leitura, nos prende a atenção do início até o final. Mas, minha leitura está muito limitada, no momento, por espaço curto, levando em conta que a prioridade está para os recursos que me são distribuídos, no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Recife. O que sobra é muito pouco.

BACANUDO - Qual a sensação de ir a uma loja e encontrar um livro de sua autoria à venda?
VSC - Senti, a primeira vez, em Porto Alegre, ante uma nova edição de Competência da Justiça Federal, pela Juruá Editora (de Curitiba). Estava numa livraria jurídica, quando me deparei com o livro, e, imediatamente, pensei que havia outro doido escrevendo sobre a mesma matéria. Aí pousei os olhos no meu nome. Bom, não era outro doido, era eu mesmo. Depois, me acostumei a ver meus livros jurídicos nas livrarias, bem como nos catalogos da Juruá Editora, como também nas estatísticas de venda que a Juruá me envia trimestralmente. A sensação é muita boa. 

BACANUDO - Quais eram os seus passatempos que te levaram a querer contar histórias?
VSC - O meu primeiro conto foi escrito quando era estudante do então Ginásio Estadual de Itabaiana. Depois, as ideias foram surgindo e fui escrevendo, escrevendo. Nesse andar, eu aproveito a ideia que me surge na cabeça ou alguma história real, que a gente se encarrega de dar as cores que considera necessárias.

BACANUDO - O que irá influenciar a partir de agora na sua carreira e na sua vida, estar entre os melhores do país?
VSC - Me dá mais responsabilidade. Oxalá me abra mais as portas das editoras.

BACANUDO - Qual livro marcou a sua vida até hoje e por quê?
VSC - Não foi um. Foram três: 'Laudas da História do Aracaju', de Sebrão, sobrinho, meu tio-avô; 'Os Sertões', de Euclides da Cunha, e 'Grandes Sertão Veredas', de Guimarães Rosa. O estilo de cada um, as frases longas, o texto fechado, tudo me impressionou. Não consigo ler outra coisa depois que passo os olhos em algum trecho destes três livros.

BACANUDO - O que acha que está faltando para incentivar a leitura, principalmente entre os mais jovens?
VSC - O hábito da leitura deve ser plantado na escola, em primeiro plano. Depois, há de se pensar que a sede de leitura está no homem. Uns, só vivem com sede. Outros, a sede é temporária. Outros, infelizmente, não tem sede alguma.

BACANUDO - Acredita que a literatura seja um dos fatores mais importantes para definir a identidade de um povo?
VSC - Evidentemente que sim. Tanto que a gente ainda lê hoje 'Dom Quixote', conhecendo a vida de Cervantes, sem saber quem eram os homens ricos de seu tempo. Machado de Assis, por exemplo. Quem eram os ricos de seu tempo? Não sei. Mas conheço alguma coisa da vida de Machado.

BACANUDO - Se estivesse agora a começar a sua carreira como escritor, mudaria alguma coisa?

VSC - Eu escrevo nas horas de folga. Não sou profissional. Primeiro, tenho sempre dito, meu trabalho, que representa meu ganha-pão. Depois é que vem os contos e as crônicas, nos momentos de folga. Em função disso, meus votos são sempre diferentes, inserindo neles um pouco de literatura na clareza de cada assertiva. Escrevo pela necessidade de colocar para fora algo que está dentro de mim. Não escrevo como Manuel Bandeira que fazia versos como quem morre. Escrevo para tirar de mim a ideia que o bom anjo plantou.  Tivesse de começar agora, não mudaria nada, dando os meus passos de antes e fazendo as mesmas coisas.

Texto e imagem reproduzidos do site: bacanudo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário